Entende-se por abortamento toda interrupção da gravidez que ocorre antes das 20 semanas de gestação, ou cujo peso fetal seja menor que 500 gramas.

Também conhecido como abortamento recorrente ou habitual, o abortamento de repetição é definido como a ocorrência de três perdas fetais consecutivas. Tal fatalidade acomete cerca de 1% a 5% das mulheres.

Normalmente a investigação se inicia antes disso. O ideal é que aconteça logo após a primeira perda, tendo em vista o grande acometimento emocional do casal frente à enorme frustração que é um aborto espontâneo.

O abortamento de repetição tem causas variadas. Cerca de 60% deles ocorrem por fatores embrionários, como síndromes genéticas, alterações cromossômicas e malformações fetais. Os demais 40% estão relacionados a fatores maternos (como diabetes, hipotireoidismo, trombofilias, idade materna avançada) ou paternos (qualidade espermática, essencialmente).

Causas mais conhecidas de abortamento por repetição

Embrionárias

Aproximadamente 60% dos abortos é decorrente de alterações genéticas embrionárias, que, por sua vez, estão diretamente relacionadas à idade materna avançada. Em mulheres com idade menor que 35 anos, o risco de aborto devido a uma alteração genética é de cerca de 10%. Em contrapartida, esse risco aumenta para 50% em mulheres com idade superior a 40 anos.

As causas genéticas incluem alterações cromossômicas como monossomias, trissomias, translocações, inversões, dentre outras.

Anatômicas

As alterações anatômicas do útero podem ser congênitas ou adquiridas.

Malformações congênitas:

  • Útero didelfo: o útero é duplicado, dividido em duas partes, cada uma com seu colo uterino.
  • Útero bicorno: o fundo uterino, região cornual, é dividido por um membrana podendo ser desde uma pequena divisão até uma completa divisão do órgão. Diferentemente do útero didelfo, neste caso há apenas um colo uterino.
  • Útero unicorno: útero com metade do tamanho habitual.
  • Útero septado: presença de um septo na cavidade uterina.

Alterações adquiridas:

  • Incompetência istmo-cervical (IIC): quando o colo uterino abre muito precocemente.
  • Miomas: mais associados ao abortamento quando modificam a cavidade endometrial. Os miomas submucosos, quando muito volumosos, são maiores que 4 cm.
  • Sinéquias: aderência endometrial, geralmente surgem após curetagem uterina.
  • Pólipos: não há um consenso sobre os pólipos aumentarem o risco de abortamento, porém a sua retirada cirúrgica aumenta as taxas de gravidez.

Endócrino-metabólicas

Algumas alterações endócrinas, principalmente quando descompensadas, podem estar relacionadas a um risco aumentado de abortamento, dentre elas diabetes mellitus, obesidade, hiperprolactinemia e distúrbios da tireoide. 

Por isso, sempre é necessária uma avaliação clínica detalhada antes da gestação.

Infecciosas 

Infecções causadas por bactérias como Clamydia, Mycoplasma, Streptococcus e Ureoplasma estão associadas a abortamentos de forma isolada.

Trombofilias 

As trombofilias, que podem ser hereditárias ou adquiridas, promovem um desequilíbrio no sistema de coagulação sanguínea, potencializando o desenvolvimento de trombose arterial e venosa, que  por sua vez dificulta a implantação do embrião no útero, provocam alterações no desenvolvimento e função placentária, consequentemente acarretando em abortos. 

Diversas mutações podem ocasionar o desenvolvimento dos trombos, dentre elas a síndrome anticorpo antifosfolípide (SAAF), a mutação no gene da metilenotetrahidrofolato (MTHFR), mutação do fator V de Leiden, mutação no gene da protrombina, hiperhomocisteinemia, deficiência de antitrombina III, proteína C e S.

Genéticas 

Alterações genéticas do casal, que afetam um ou ambos, estão relacionadas à dificuldade no desenvolvimento do embrião devido a suas alterações cromossômicas, resultando em abortos recorrentes. Nesses casos é importante uma consulta com um geneticista e avaliação de cariótipo do casal.

Hábitos e estilo de vida 

Sabemos da importância de bons hábitos e qualidade de vida para o melhor prognóstico gestacional.
Sugere-se conscientização e mudanças o mais precoce possível, lembrando que a mínima modificação já pode trazer grandes benefícios.